ASTROLOGIA: DESTINO E LIVRE ARBÍTRIO
Entrada Franca
O Circuito Nacional de Astrologia é uma iniciativa da Central Nacional de Astrologia, e encontra-se atualmente em sua quinta edição. Com o objetivo de fomentar e estimular o diálogo entre os astrólogos, assim como disseminar a astrologia para o publico leigo, os Circuitos são realizados em datas próximas em diversas capitais brasileiras e a entrada é totalmente gratuita. Como a proposta é de um grande evento nacional, a cada Circuito é eleito um tema para nortear as palestras, tema este que é trabalhado e adaptado conforme as características locais. Assim, temos uma diversidade de palestras e mesas redondas dialogando sobre astrologia, em torno de um foco comum, de Norte a Sul do país.
Diante da entrada do planeta Urano no signo de Áries, que certamente evidenciará no coletivo questões como grau de liberdade e individualismo, o tema eleito para V Circuito é “Astrologia: Destino e Livre Arbítrio”. Assim, a abordagem destas questões e seus desdobramentos dentro da prática astrológica é evidentemente correlato e coerente com as atuais configurações celestes.
Convidamos a todos a prestigiarem este evento. O V Circuito abordará relevantes questões dos tempos atuais sob a ótica da Astrologia, aumentando a compreensão sobre esse momento especial que estamos vivendo.
Giane Portal
Diretora Social da Central Nacional de Astrologia Confira a Programação da Regional – RJ
Rio de Janeiro
Data: 12/06/2010
Hotel Atlântico Copacabana – Salão Imperial
Endereço:Rua Siqueira Campos 90Copacabana (Esquina de R. Siqueira Campos perto do Metrô)
Entrada Franca. Pede-se levar uma lata de leite em pó.
10:30 – Abertura
11:00 – A QUADRATURA QUE NOS ATROPELA – Fernando Fernandes
A quadratura T formada por Saturno Plutão Urano e Júpiter é o grande fato astrológico do momento com forte impacto em nossas vidas pessoais. Não há como fugir: ou saímos voluntariamente da zona de conforto ou seremos atropelados pelos fatos.
12:00 – Intervalo – Almoço.
13:30 – A ASTROLOGIA COMO FERRAMENTA EM PROL DO LIVRE ARBÍTRIO –
Vanessa Tuleski O livre arbítrio só pode ser exercido com conhecimento. Quem não conhece não tem possibilidade de escolha, isto é, de exercer o livre arbítrio.
14:30 – AS ESTRELAS NO MAPA DE CHICO XAVIER E SEU DESTINO NA PSICOGRAFIA – Carlos Hollanda
15:30 – Intervalo
16:00 – REFLEXÕES ASTROLÓGICAS SOBRE A REALIDADE BRASILEIRA – Dimitri Camiloto
17:00 – ASTROLOGIA HORÁRIA MEDIEVAL – Rodolfo Veronese
Baseado nos princípios de Masha`Allah astrólogo judeu do século IX d.c.
O descrédito em horóscopos (os de jornal principalmente) se deve basicamente a vários motivos: o de não ser feito por um astrólogo realmente (o que antigamente era muito comum), por um profissional limitado ou ainda, escrito por um bom astrólogo, mas que peca nesta aplicação do conhecimento astrológico. Afinal, é uma técnica especial, com uma abordagem e linguagem específica. Outro motivo recorrente é quando tratamos esse tipo de previsão objetivando ACONTECIMENTOS. Geralmente, a tendência do leitor é ter uma expectativa “do que vai acontecer”, como se algo externo a ele fosse capaz de influenciá-lo. Se o astrólogo, em seu discurso, reforça essa postura diante das tendências indicadas pelos astros, o resultado é frustrante para todos. Ele tenta dar exemplos de acontecimentos possíveis ou tende a dar conselhos, alimentando o descrédito dos que dizem não “acreditar” em astrologia.
Desperdiçamos o precioso momento presente e nossa força interior, ao projetarmos para fora e para frente a nossa energia, assim como quando ficamos apegados ao passado. Perdemos a conexão com o nosso centro, inviabilizando uma visão ampla, profunda e consciente. Poucos reconhecem o valor dessa sintonia. Uma minoria tem a consciência da sua própria conexão com o cosmos. Seu interesse parte da vontade de tornar consciente essa correspondência, buscando conhecimento ao invés de simples informação ou conselho. Estes poucos sabem que são coautores. Não ficam desafiando os outros, afirmando sua individualidade.
Diante disso e na intenção de defender a astrologia, acho bom lembrar aqui a base fundamental da elaboração de um “horóscopo” – os SIGNOS = as 12 divisões do caminhar do Sol (percorridos a cada ano). Neste caminho, ou faixa zodiacal, circulam os astros, cada qual com seu ritmo. Quando dissemos “o meu signo é…”, estamos nos referindo a posição do Sol naquele signo (e não na constelação!). Pessoas do mesmo signo podem ser muito diferentes, com atitudes até opostas, mas há entre elas um ponto comum: o seu foco de atenção e orientação, uma determinada qualidade essencial de onde parte sua visão de mundo, fonte da sua vitalidade. Esta é a generalização existente no horóscopo. As diversas mutações do céu (aspectos entre planetas, fases da Lua, etc.) são interpretadas em relação a cada signo. Existem horóscopos mais detalhados (considerando decanatos, etc.) ou os que incluem também interpretações relacionadas ao signo como ascendente (signo que ascendia no horizonte leste na hora do seu nascimento indicando o seu modo de atuar).
Em resumo, o horóscopo fornece indícios de uma disposição interna importante, uma orientação precisa e objetiva por sua análise ter como base o nosso símbolo do centro – o SOL. Um horóscopo não pode prever eventos, como por exemplo: “Você vai encontrar sua alma gêmea esta semana…”. Ele pode sugerir uma intensificação favorável do afetivo e do poder de atração, pode precisar até o dia mais propício para relacionamentos, mas não pode determinar o fato. Se não “aconteceu” ou você não percebeu nada semelhante ao sugerido na leitura, não quer dizer que seja uma previsão errada do horóscopo. O tema da questão e as qualidades das energias envolvidas ali reveladas estão sendo vividas por você de alguma forma, em algum nível. O fato depende de você, do chamado “livre arbítrio”, depende da promessa indicada no céu do seu nascimento (o seu mapa natal), da “hora certa” para acontecer. Aliás, até para que se saiba disso depende também de fatores que transcendem qualquer entendimento. Certos mistérios, impossíveis de serem desvendados, são indispensáveis à nossa sobrevivência, constituem a natureza, fazem parte da sucessão dos acontecimentos.
Plutão em Capricórnio traz grandes transformações em estruturas, lideranças e hierarquias (ver o post anterior – A HIERARQUIA E A GRAVIDADE).
No mundo, as maiores mudanças serão observadas na política e na economia.
Cada signo solar terá o seu foco de atenção nas seguintes áreas indicadas abaixo. No caso de signo ascendente, a associação pode ser mais visível, relativa aos “acontecimentos”. Ex.: Signo solar – Aquário com Ascendente – Touro: Poder transformador na conexão com o não visível, no inconsciente, atuando nas questões relativas ao estrangeiro, estudos, viagens, questões legais ou religiosas. Já o inverso: Signo solar Touro com Ascendente Aquário: Poder transformador relacionado ao estrangeiro, estudos, viagens, questões legais ou religiosas, atuando na conexão com o não visível, no inconsciente.
Neste breve resumo, podemos ter uma noção de onde o movimento poderoso de destruição e regeneração associada à Plutão estará atuando (de 2008 a 2024):
Áries – no setor social, profissional ou na estrutura familiar
Touro – relativo ao estrangeiro, estudos, viagens, questões legais ou religiosas
Gêmeos – nos assuntos que envolvem uma fusão com o outro, nos recursos compartilhados
Câncer – nos relacionamentos
Leão – no cotidiano, no trabalho ou na saúde
Virgem – na criatividade (inclusive filhos), na capacidade de expressão da individualidade
Libra – na vida privada, família, casa
Escorpião – no meio circundante (irmãos, parentes e vizinhos), na comunicação em geral
Sagitário – nos valores e recursos próprios
Capricórnio – na iniciativa, no modo de agir ou no próprio corpo
Aquário – na conexão com o não visível, no inconsciente
Peixes – associado a amigos, grupos ou nos planos para o futuro
Sugestão: Você pode também checar como foi a passagem de Plutão (a transformação) nos últimos 13 anos (quando em Sagitário desde 95) lendo o signo seguinte ao seu. Ex.: Peixes lê o de Áries.
Com Plutão entrando em Capricórnio, as autoridades mundiais sofrem a força natural da gravidade. O poder de transformação vem regenerar o que é reconhecido como supremo.
Os trânsitos críticos deste astro (recentemente destituído da condição de planeta), sempre me fazem lembrar o bandido quando anuncia um assalto: “- Perdeu, perdeu! Passa tudo!” Resistir pode ser fatal…
A supremacia do centro na escolha de uma representatividade
A teorização astrológica pode também sofre mudanças devido a uma dificuldade de apreensão e entendimento do porque aquele determinado conhecimento é assim simbolizado convencionalmente. Vamos ver os astrólogos estudando diferentes abordagens, experimentando outras técnicas. Mais do que nunca é essencial ao astrólogo, o conhecimento profundo dos mitos, símbolos e sinais com os quais trabalha. Sua visão pessoal molda não só a linguagem, como as formas de abordagem de acordo com a compreensão de seu tempo. O desconhecimento ou o desrespeito aos fundamentos da astrologia ou de qualquer premissa de uma determinada aplicação teórica pode anular a sua pertinência ao campo do saber astrológico. Essa é apenas uma pequena apreciação do rigor exigido do profissional, principalmente quanto à hierarquização.
Sendo uma visualização topocêntrica, de estrutura concêntrica, sua linguagem deve atender, portanto, a este “ponto de vista” – ao significado central, à essência do símbolo.
Ao se transpor o conteúdo para a linearidade da construção da linguagem, sua “pureza” fica comprometida por estar sendo “manipulada” pela racionalidade de cada indivíduo. Cada um tem o seu sistema de hierarquização, organização e seus recursos. A exteriorização correta, ou seja, a boa e clara teoria é a que promove uma fiel reconstituição interna do tema em questão. Tanto no próprio emissor quanto no receptor. Essa visualização interna ocorre, quando a convenção utilizada não é apenas uma ressonância do natural, uma alegoria, mas seu correspondente por analogia. Como assim acontece na compreensão imediata diante de símbolos naturais, por exemplo.
A hierarquia na astrologia se faz pelo grau de “pureza”. Os elementos de cada conjunto são individualizados, inteiros, totais. Assim como as cores primárias (formadoras da luz visível) que não são formadas por nenhuma outra, mas participam da composição de qualquer cor, mesmo que seja como oposta e complementar. A fração de uma inteireza sempre vem acompanhada do seu complemento, mesmo ele não sendo aparente. Assim como os símbolos abarcam o seu inverso.
Portanto, Plutão em Capricórnio atuando nos sistemas hierárquicos, provoca também uma revisão da ordenação do pensamento e, claro, da linguagem. Os modelos antigos não servem mais. É preciso aprofundar-se, revisitar a origem, tocar o cerne. Os esquemas racionais vão tentar organizar as emoções percebendo o verdadeiro centro da questão, o qual só é reconhecido individualmente pelo coração. A linguagem simbólica então vem “socorrer” a expressão dos sentimentos, por transcender o determinismo espaço-temporal.
A visão espacial e o bidimensional
A qualidade da informação não é definida por sua forma isolada de seu contexto. A identificação do significado de um ponto é definido por sua relação com o espaço. Vemos então surgir a linha que representa esta relação – o horizonte. Temos a noção do eu (no Ascendente, no que se eleva) por contemplarmos a oposição que nos define e limita (no Descendente, no ocaso). A “existência” é reconhecida através da relação.
A percepção do centro na linearidade, só é encontrada após a apreciação da dualidade, da definição de seus extremos, no ponto comum. No meio do Céu, a dualidade é vista como complementares de uma só totalidade – a visão genérica. Só aqui, definimos o centro. A visão geral e imparcial obtida deste ponto de vista é uma representação do centro. Nem o Meio do Céu, nem Capricórnio são “o centro”, mas o representam em relação ao todo. O reconhecimento de supremacia, de autoridade ou a identificação do centro de qualquer coisa, torna-se impossível se não delimitarmos a dimensão, “o raio da ação”. A determinação do cume define o ângulo da abertura do compasso, a circunferência – linha do caminho evolutivo, a representação do ciclo, a manifestação do centro. Quando não dispomos dessa representatividade, ficamos oscilando entre opostos, experimentando a diversidade e a alteridade. Através de meras comparações e até mesmo no relacionamento com o outro, o máximo que conseguimos, é vislumbrar o ponto médio definido apenas pelo ponto de vista individual. Ao não reconhecermos uma autoridade, ficamos só no individual e no confronto à tudo o que é externo a nós. O que, ou quem se encontra numa posição de supremacia, só se mantém aí se for capaz de representar a totalidade da qual pertence.
Do alto
O Meio do Céu, interseção do meridiano do lugar com a eclíptica, é reconhecido como o lugar do destino. Tradicionalmente, os astros situados nele, norteiam nossas vidas
Do alto, observamos a abrangência e as particularidades referenciadas entre si e ao todo. Para o alto, projetamos nossas metas, almejando esse posicionamento privilegiado, símbolo da vitória sobre a gravidade. Plutão aí, angular, em Capricórnio, vem transformar o que consideramos mais representativo. Modificando estruturas e reformulando esquemas sociais. Ao meio-dia, no ponto máximo de luz, ele vai nos promover maior clareza na percepção do que é realmente relevante e mais importante. Com o astro da transformação neste ponto, as antigas representações de supremacia morrem, assim como qualquer classificação decorrente dela. A hierarquização natural, como a filiação, por exemplo, também deve receber uma nova abordagem ao longo desses 16 anos de trânsito. Tudo o que possa ser simbolizado pelo Sol, enquanto líder ou autoridade é igualmente alterado de alguma forma entre 2008 e 2009 principalmente.
Como órfãos, sobrevivendo nesse “desnorteio”, teremos que descobrir nossos pais internos para nos orientarmos.
Na História
Para a astrologia, este período traz transformações relativas à sua própria representatividade no social. Por estar baseada no princípio solar, ela recebe uma atenção especial. Assim foi entre 1637 e 1770 aproximadamente, com o declínio da astrologia no ocidente. Considerando que em 1762, Plutão fez a passagem de Sagitário para Capricórnio, destaquei alguns fatos relevantes da nossa história neste período crucial. São eventos apontados na maioria dos livros consultados.
Na passagem do Iluminismo para o Romantismo (que antecede o Positivismo), o pensamento se voltava para as questões sociais. Há o combate à desumanidade da aristocracia e ao poder autoritário e dogmático da Igreja. Em “O Contrato Social” (1762) de Jean-Jacques ROUSSEAU – o teórico da Revolução Francesa (1789), apresenta sua visão política – o ideal de uma ordem estabelecida pela vontade da maioria:
“Submetendo-se cada um a todos, não se submete a ninguém em particular, e como não há um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se cede sobre si próprio, se ganha a equivalência de tudo o que se perde e maior força para conservar a que possui.”
Filósofos oscilam entre duas concepções, as quais irão se unir no fundamento das ciências: o racionalismo empírico através da sistematização. As estruturas visíveis da natureza eram transcritas em linguagem. Surgem então, os chamados “enciclopedistas”. De 1751 à 1777 – Denis DIDEROT(filósofo) e Jean D’ALEMBERT (filos. matemático) lançam a “Enciclopédia ou Dicionário Racional de ciências, artes e comércio” (contendo críticas a religião e na intenção de reunir todo o conhecimento).
Outros destaques importantes:
*1735 – Carl Von LINNÉ – publica na Holanda “Sistema da Natureza” – sistema binominal de classificação de plantas e animais (utilizado até hoje). Sistematizado em 5 categorias: classe, ordem, gênero, espécie e variedade.
*Teorias de Antoine-Laurent LAVOISIER (1743-1794 – pai da química moderna, como ciência, de quem se atribui a frase: “Na natureza nada se cria, nada se destrói, tudo se transforma.”
*de 1749 e 1788 – Georges LECLERC (conde de Buffon) – “História natural, geral e particular “ (biólogo que já chega muito próximo a teoria da evolução)
*1769 – James WATT (matemático e engenheiro escocês – aprimora a máquina a vapor, prenunciando a Revolução Industrial)
*1775 – Abraham WERNER – (“pai” da geologia histórica – origens da crosta terrestre – funda escola na Saxõnia)
*1775/1783 – A Guerra da Independência dos Estados Unidos da América (1776)teve suas raízes com a assinatura do Tratado de Paris(10-2-1763, entre: Reino Unido, França, Portugal e Espanha ) que pôs fim à Guerra dos Sete Anos.
*1781 – Immanuel KANT publica “Crítica da Razão Pura“. Sua filosofia, para escapar do racionalismo, delimita o valor da metafísica para integrá-la em um novo pensamento – idealismo transcendente. (Início da ciência moderna).
Na pintura, Jean-Honoré Fragonard em “The Gardens of The Villa d’Este” (1762) apresenta uma paisagem idílica, exuberante, repleta de detalhes no estilo Rococó (francês).
Na música, uma curiosodade: Em 1759, Leopoldo Mozart começou a ensinar cravo a seus filhos: Nannerl com 8 anos e Wolfgang com 3!A partir de 1762, a família inicia uma jornada pelo mundo. Com 5 anos, Mozart já havia composto umas 10 peças (catalogadas). Em 63, com 7 anos em viagem à Paris, conhece Maria Antonieta (com a mesma idade).
Os grandes compositores da época eram Handel e Haydn, mas ainda imperava a música de Bach (falecido em 1750), sendo o preferido de Mozart.
Redigir a interpretação de trânsitos astrológicos é uma tarefa delicada. Como tudo no universo é interdependente, nomear qualidades separando através da racionalidade exige extrema prudência, serenidade e rigor. A astrologia não pode ser culpada pelos meus erros. Mesmo assim, vale a aventura. Ela é a nossa orientação há milênios. É a arte presente no fundamento de todas as ciências e religiões porque exprime as nossas reflexões existenciais. A astrologia não sabe tudo, nem aponta só tendências como costumam dizer. Sua linguagem é simbólica, atendendo a vários níveis de compreensão.
” Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam ele para sinais, para estações, para dias e anos.”
Gênesis 1-14
Sinal – aquilo que serve de advertência, ou que possibilita conhecer, reconhecer ou prever alguma coisa. (Dic. Aurélio)
O mistério, o desconhecimento e o esquecimento são condições para a existência. O lembrar e o esquecer são fatores primordiais para a vida. Um astrólogo não “tem que dizer tudo” porque o “tudo” não é revelado. Não podemos saber tudo porque tudo está SENDO. Teríamos que estar em todos os lugares ao mesmo tempo, em todos os tempos… A “imprecisão” é precisa, necessária, natural. Não importa se é porque o astrólogo é inexperiente ou se não era para o cliente (ou ambos) saberem. No fim das contas, a realidade é uma só. Se percebemos seus sinais, magnífico! Podemos compreender o que passamos e nos prepararmos para o que virá.Se não nos “ocupamos” com um dado novo é porque ainda precisamos nos dedicar ao já conhecido.
” É a persistência do mistério, que nos inspira a criar.”
Marcelo Gleiser (Dançando com o Universo)
Tudo está em constante RELAÇÃO e mutação. Nada “influi sobre” nada. Ninguém “sofre” a influência de um astro. A astrologia estuda as correspondências encontradas no universo, através das analogias entre o micro e o macro cosmo – entre a Terra e o Céu. Não idolatra planetas, não faz apologia, nem defende um determinado “ponto de vista”. Ela apenas se situa ENTRE, identificando ciclos naturais, suas proporções e sincronicidades.Se ela tem um “ponto de partida”, podemos dizer que é a partir do CENTRO: entre a sístole e a diástole, entre a inspiração e a expiração, entre os dias e noites. Ela é HORIZONTE. Ela faz parte da nossa sobrevivência. Ela não existe para EXPLICAR A VIDA, mas para conhecê-la, apreciá-la e celebrá-la. A única coisa que dela decorre e para alguns, ou melhor, para a maioria das pessoas é um problema, é a aceitação da própria vida. Não estou aqui defendendo uma postura de resignação, nem de acomodação. Independente de “o que causa o que” ou qualquer tese determinista e mesmo antes de qualquer juízo, existe a VONTADE. E essa vontade é a chave da sua conexão com o “todo”. Ela é percebida como apenas sua, mas na verdade a vida acaba demonstrando que o que é exclusivamente “seu”, é a sua conexão com algo além e maior do que você entende como “você” ou como ”seu”.
“As grandes decisões na vida humana têm, em regra geral, muito mais a ver com o instinto e outros misteriosos fatores inconscientes do que com a vontade consciente e o raciocínio significante.”
Jung (The Practice of Psychotherapy)
” Os fenômenos sincronísticos são a prova da presença simultânea de equivalências significativas em processos heterogeneos, sem ligação causal;…”
Jung (Sincronicidade)
Querer não é poder. Querer é desejar ter alguma coisa, de fora prá dentro. Vontade você já tem e quer exercê-la. Ter “má vontade” com a vida é sinônimo de exclusão e morte. Você só tem “boa vontade” quando há o sentimento de PERTENCIMENTO no seu viver. Sentir-se incluso e participante é o oposto de resignar-se. A astrologia desperta essa percepção de pertencimento e modifica a noção comum de “livre-arbítrio”. Ela demonstra que a sua liberdade de escolha é a sua REALIZAÇÃO. O que nada tem a ver com a visão individualista de auto-afirmação ou poder pessoal. (Eu fico só imaginando a quantidade de seguidores do “Segredo”, agora divididos entre vitoriosos ou derrotados por seu “poder de atração”!). Você faz o seu destino porque você o é. Você não “muda” o seu destino, porque você já é seu co-autor. O “drama humano” não é a PREDESTINAÇÃO, o destino cruel. Nem “o inferno são os outros”, como disse Sartre. O problema está na sua relação com a sua própria realidade.
O mais comum ao se interpretar um trânsito é o cliente perguntar: – Isso é bom ou ruim?Penso que se Beethoven tivesse sido proibido, impedido de fazer música, preso e condenado judicialmente devido ao fato de ser surdo, ou se surdo não fosse, não teríamos hoje a sua “Ode à alegria”, por exemplo. O dito “tirar a sorte grande” pode perfeitamente se aplicar a uma “fatalidade” quando vista por uma determinada ótica. Mas, por favor, não quero dizer com isso que ser surdo seja bom!!! Só estou querendo ilustrar um problema muito freqüente nos atendimentos: a solicitação de uma avaliação de um momento futuro por parte do astrólogo. Afinal, a própria vivência é que é contundente! Vejo um terceiro fator chave entre uma crueldade e uma dádiva do destino: a alegria da auto-realização. Podemos passar por momentos difíceis e tristes sem perder a alegria de viver. Mesmo não manifesta, silenciosa, ela acompanha o suicida, oculta no prazer de encenar o seu ato extremo. Quem se sente excluído e descrente do amor universal, adoece ou comete crimes. O grande problema é a nossa dificuldade em aceitarmos a nossa própria natureza cósmica. A realidade de que somos únicos e ao mesmo tempo um. Quando você ataca alguém é porque ainda não reconheceu este outro em você. A agressividade é uma ação natural do iniciante, ingênuo e espontâneo. Já a violência, excede, ultrapassa limites. Agressividade é ignorância. Violência é burrice! Para mim, o sentido da vida é a compaixão: a alegria de viver compartilhada. Não culpo e não justifico através dos astros, nem meus antepassados, nem vidas passadas, espíritos, santos, deuses ou demônios. Nada de inferno ou paraíso. A glória é o agora. Tudo tem uma razão de ser, impossível de ser identificada. Apenas observamos seus sinais, as qualidades do tempo, verificamos padrões de manifestação, encontramos significações e evoluímos ao nos reconhecermos na natureza através dos nossos afetos. As contrariedades também são boas porque indicam mudança. A estagnação é que é venenosa e contrária à vida. Conviver com a diversidade requer esforço e sabedoria porque o diverso nos assusta, delimita, contraria, frustra e anula. Para viver essas inflexões é preciso ter muita paciência! Isso não requer só um elevado grau de espiritualidade, requer físico e fôlego!
Eu não separo a matéria do espírito, nem prego a reencarnação. Sinto e entendo a vida como uma só consciência, onde cada um a “regula” do seu modo e de acordo com a necessidade do seu destino. Prá viver não existe “receita de bolo”, nem o sapato do outro me serve. Se nasci em Março, com o Sol no signo de Peixes, por exemplo, como posso ver o mundo com os olhos de um Escorpião? Através dos estudos milenares astrológicos, visualizamos um ciclo natural de manifestação. As estâncias da vida e suas qualidades representadas pelos signos (radiações do centro, da unidade) são de grande ajuda para compreendermos a diversidade. A vida brota em Áries, de forma espontânea, mas tendo você o ascendente em Touro e por isso iniciando as coisas de forma lenta, não quer dizer que esteja “errado” no seu modo de agir. A partir do momento que você conhece as outras doze formas de manifestação, você se vê de fora, se conhece melhor e aos outros também. Você visualiza a sua especialidade e sua participação na coletividade. Não são apenas os Capricornianos, os profissionais ou os chefes, mas é bom saber que só nesta estância encontramos as qualidades que os define: Iniciativa com base em dados concretos, visão geral e de classificação, representatividade, responsabilidade e aperfeiçoamento constante. A generalização só ajuda quando fundamentada na natureza e delimitada por sua unicidade. Você pode apenas acatá-la por comodidade, negá-la por orgulho ou aceitá-la porque a intui, sentindo como verdadeira. Afinal, é humano e saudável questionar qualquer racionalização. Concordar não é submeter-se, é compartilhar (COM) do mesmo coração (do latim CORD).
Vamos então ter boa vontade diante do novo! Pertencer, aceitar, receber, doar, perdoar, amar… Mesmo excluindo a questão da fé , o discurso do bem e a definição de caminhos para uma conduta correta, a universalidade e suas leis naturais representada na astrologia pode ser confundida como crença. Embora às vezes possa parecer, a astrologia não é “moralizante”, nem é uma religião. Mas, assim pode ser entendida por aqueles que ainda “brigam” com a sua própria natureza, vendo em tudo e em todos, corrupção e pecado. A astrologia demonstra que a sua individualidade não é um erro e que suas características não são “defeitos”. Ela ajuda você a conhecer melhor e a aceitar a sua unicidade porque mostra a sua imagem espelhada na totalidade, no cosmo, sendo revelada no tempo.
” As coisas recebem seu ser e sua natureza por mútua dependência e em si mesmas nada são.”
Nagarjuna- sábio budista
“O que é Deus? É longitude, largura, altura e profundidade…”
São Bernardo de Claraval (sec. XII)
“Deus é um círculo cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em nenhum lugar”